quarta-feira, 28 de abril de 2010

Tarde com Manoel de Barros e uma velha história

"A gente gostava das palavras quando elas perturbavam o sentido normal das ideias.
Porque a gente também sabia que só os absurdos enriquecem a poesia"

Faz dois dias que ninguém me manda trabalho. Estou ficando incomodada e tensa, mas tenho aproveitado para fazer outras coisas: ler, escrever e ouvir música. Eu comprei esse livro novo do Manoel de Barros, Menino do Mato, e passei a tarde com ele.
Esse aí em cima é o trecho do primeiro poema do livro.
Só os absurdos enriquecem e conhecem a poesia. Eu tenho uma lista de palavras preferidas e acabei de colocar absurdo na lista. Só gente absurda gosta de poesia. É uma puta palavra massa. Quem já viu absurdo numa sentença muito grande? É difícil. Absurdo é aquela palavra que é espaçosa, espalhosa e completa. "É um absurdo!" ou "Absurdo!" já são plenas de significado. Eu adoro absurdo, absurdo é a definição de tudo que não pode ser. O que é mais emocionante do que tudo que não pode ser? Adoro! Adoro absurdidade e absurdação. O mundo ia ser mais massa se estivesse do avesso.
Enfim, segue minha lista de palavras preferidas: oceano é a primeira, eu acho oceano uma palavra aberta e arreganhada e, depois do Djavan, meio alaranjada. Eu gosto quando palavra abre. Saudade: é sonora e carregada. Não dá pra dizer de outra forma e é meio salgadinha e azul de chorosa que é. Gosto também. Adoro drama.
Vou deixar em homenagem ao Manoel Poeta (que deu reformou o nome do meu Manoel Cachorro - só quem sabe o quanto amo meu cachorro pra entender) a primeira coisa que escrevi quando fechei a Gramática Expositiva do Chão, em 2002:
O cupim é a espinha na cara do pasto.
Eu estava voltando de Campinas para Araçatuba e já estava chegando às terras quentes do noroeste do estado, com muito pasto e muita cana.