segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sobre o caso da Uniban

A minha amiga Larissa quase despirocou de choque quando soube dessa história. Ela me falava assim: a moça tava usando um desses vestidos que vc usa, sabe? Eu ri disse pra ela relaxar e prometi dar um tempo da roupa curta. Fingi que não era comigo, foi fácil, não foi. Mas podia ter sido.

Alguns homens, aliás a maioria, junto com as mulheres machistas (manutenção essencial de uma sociedade machista), acham-se no direito de julgar. Quem nunca viu, um cara feioso julgando uma garota igualmente, ou até menos, feiosa ou uma garota muito bonita. "E aí, dragão?" ou "E aí, princesa?", que diferença faz? Alguém disse que eles têm o direito de julgar e eles acreditaram. E é rídiculo, o cara tem um cromossomo Y que é um cromossomo menor, no qual falta uma perna, e acha que pode dizer o que eu sou, porque sou XX. Rídiculo.

Anyways, julgaram a Geisi e a condenaram. Ela não foi estuprada, mas foi expulsa da Universidade. Obviamente, o grupo de pessoas que a queria estuprar lá continuam, mas o importante é que a devassa se foi.

É foda ser menina nesse mundo, saber e ter certeza do que vc é, independente de tudo e todos.
O machismo está em todo lugar e as pessoas fingem que não. Como é com o preconceito racial.
Ontem, uma pessoa muito próxima de mim e querida fez uma brincadeira muito ofensiva e machista. Entre a surpresa e a decepção, deixo duas frases da minha mãe - que já foi mais feminista:
Antigamente, ela dizia: "o mundo é machista, porque ainda existem mulheres machistas."
Hoje em dia, ela diz: "minha filha, Deus é machista!"

Mesmo assim, vou insistir (talvez com um spray de pimenta da bolsa), ng vai me dizer o que eu sou, muito menos me por a mão sem meu consentimento.
E meu corpo é responsabilidade minha e o que eu faço com ele, é aqui comigo.
E bom comportamento precisa de uma redefinição, pq até onde eu vi e entendo, se tem um homem pra dizer o que eu sou ou o que fazer, esse comportamento não tem nada de bom, pra mim.

As meninas do Pão e rosas escreveram textos muito legais sobre o incidente da UNIBAN, os textos estão aqui: Pão e Rosas

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Tu tens um medo

Cecília Meireles

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

tão intrometida,

Tinha um negócio escuro e viscoso saindo da orelha dele. Primeiro escorria e depois jorrava, pensei comigo em sair, porque depois do jorro vem o esguicho.
Achei que seria delicado da minha parte avisar antes porque ele, aparentemente, não dava conta:
Viu?
Levantou as sobrancelhas como que dizendo "vi".
Ta escorrendo um...uma coisa da sua orelha.
Apontou para a orelha e acenou curtinho várias vezes com a cabeça como quem diz "é".
Você deve ter se machucado.
Inclinou lateralmente a cabeça e ergueu as mãos como quem diz "óbvio".
Como será que está me escutando, pensei.
Fez que não com a cabeça. E, finalmente, falou: sou surdo.
E escuta pensamentos, pensei antes de mim.
E ele riu.
Fugi de um pensamento que já tinha sido qdo eu pensei em correr. Corri, corri e corri e desviei. Me pegou. "Você vai morrer".
E de novo falou, estou tentando. Mas é difícil.
Então, tirou a arma do casaco e atirou na própria cabeça mais uma vez.
Resolvi deixá-lo só.
Sou cheia de empatar a foda e o suicídio dos outros.

Minha filha

Ontem a Larissa esteve em casa, e falamos de muitas coisas da vida e meios que nos planejamos para ter nossos filhos ao mesmo tempo, tipo em 2011.
Não sei se por essa conversa toda ou se pelo todo de estimulante que tomei pra trabalhar (e que não segurou meu sono) eu me encontrei com a minha não-nascida filha (que é provavelmente meu plano mais antigo e é, o que a Roberta diria, a busca instantânea por significado na vida).

Eu desse quarto fui parar num parque, com uma árvore e um banco embaixo dela. No banco uma criança pequena, uma menina, só. Eu meio que corro para alcançá-la. Eu sei quem ela é e procuro em mim alguma marca da chegada dela e não acho. E ela sabe quem eu sou, mas é quase indiferente. Alcanço. Pergunto:
Ei, gatinha. Vc não é muito pequenininha pra estar sozinha aqui?
Responde: Não.
Eu: Não?
Ela: Não. Você é que é muito pequenininha para eu estar aqui.

--
A primeira vez que eu sonhei com a minha filha eu tinha uns dezessete anos, que é quando aparentemente minha vida começou a acontecer. Eu estava numa casa que eu morei com a minha família temporariamente em razão da reforma da nossa casa. Estava na cozinha, com um bebê muito pequeno que eu apresentava para minha mãe como minha filha Isabel.
E ela para mim teve esse nome por muito tempo. Agora, como os planos não são mais apenas meus o nome está meio que em suspenso.
E talvez o plano também porque ela me disse de algum lugar em mim que eu ainda sou muito pequenininha.

...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

leminsky

e ainda com os pensamentos sobre os possíveis passeios da sua língua em mim

Hoje teve um sarau dos poetinhas.
E foi massa, de onde eu peguei pra diante.
Mas depois de um momento lá, eu achei q tava na hora de manifestar.
Não rolou pq na hora acabou, mas enfim essa sou eu.
O poema q eu ia recitar, é um poema do Leminsky.
O poema em questão, eu tava pensando nisso, entrou em mim qdo eu tinha dezessete anos.
E nunca mais saiu.
E isso faz onze anos.
Eu nunca fui tão fiel.
Eu tenho um problema com fidelidade, de verdade, pq eu nunca tinha visto até acontecer comigo, logo achei q não exisitia.
Isso me lembra por que eu sou fiel ao lemisnky assim
1 pq partilhamos a sensação de não existir e de suicídio sem morrer
2 pelo óbvio.

o tal do poema:
já me matei faz muito tempo
me matei qdo o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca
o mesmo
sempre
passo
morrer faz bem a vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma
morrer - de vez em quando-
é a única coisa que me acalma.


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"vc está tão longe
q eu sinto q nem existo"

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

28.

Eu to doída de estar completando 28, mesmo. Drama à parte. É um saco.
Estou mais pra dona q pra moça. E quase sem alcançar nada do planejado.
Tudo bem, pq eu nunca fui boa de planos.
Mas que bosta.
Lembro de uma das zilhões de brigas que eu tive com a Dani Seabra, aí ela disse (sei lá por quê) - o que eu tenho na vida? o rafa e uns poucos amigos. (ela não tinha o mais novo ainda).
Hoje quando deu meia noite, o Ruyzinho veio me abraçar. Foi massa. E no meio dessa minha rabugice pré-trinta e pré-qualificação, tenho que dar o braço a torcer pra Daniuska. O que a gente tem na vida mesmo são os amigos. Que bom que o Ruyzitos está por perto, e que saudade dos que estão longe.
Bobagem a gente ter crescido, casado, parido e mudado.
Eu devia ter sido mais menina quando dava, ter trabalhado menos e ter ficado menos mal-humorada enquanto as meninas estavam por perto.
Mas enfim, sei que minha fama de drama queen já atravessa as fronteiras nacionais, então, não vou nem me intimidar.
De verdade mesmo, hoje e agora que o Ruyzinho foi dormir, e a casa ta vazia, eu to me sentido mesmo, cansada e velha e sozinha.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

é a puta que pariu!

eu passo a vida esperando a agonia passar
quando dói muito, eu conto até cinquenta
e até cinquenta de novo
contar me mantém ocupada e afastada do que eu não quero ver

que a gente passa na vida contando o tempo em que não queria estar

e quando perguntarem onde eu estive na vida
vou dizer
contando agonia
de cinquenta em cinquenta
nos lugares
nas situações
e nas gentes
que eu não queria

pq nessa vida a gente foge muito do que realmente quer
pra ter do que reclamar

quarta-feira, 13 de maio de 2009

pequenininha

eu sinto que esse trabalho me diminui
a posição da mesa, minha postura, a luz
os músculos vão se contraindo
formando nozinhos
e eu vou diminuindo
e vou pra cama doendo

eu sinto que o dinheiro me seca o cérebro
eu esqueço de beber água
de fazer o que gosto
de ligar pra quem amo
os músculos formando nozinhos
e vou diminuindo
e vou pra cama doendo

sou eu no final do dia:
essa sujeita pequena,
desidratada de amor
seca de poesia

tensa doendo na cama.

sábado, 9 de maio de 2009

foguinho

duas ou três bolinhas de calor vão subindo.
no começo dói, incomoda e incha.
depois eu me acomodo e é bom.
dá uma fome, uma sede, uma...
todas essas sensações de incompletude, que trazem alguma voracidade.
eu sou cheia delas.
minhas bolinhas que correm quentes.
imediatistas e imprevisíveis.
espero que elas continuem vindo e se espalhando.
ah que se ter calor pra ter vida.
vide o sol.

eu queria essa música, mas não gostei tanto do vídeo:

apaga a luz.

- amor, maior de todos, meu.
- sim?
- qdo sair, apague a luz.
- sim, sim. claro.
(...)
- mas vc vai fica aí, sozinha, no escuro?
- e onde mais eu ficaria?
- eu acho triste.
- é triste, mas eu sei onde está tudo. precisar mesmo da luz, não preciso.
- entendi.
- se for, apague a luz.

terça-feira, 17 de março de 2009

Sei um ninho


Miguel Torga

Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Vai vadiar, vai!

vai, pode ir...
a porta fica aberta

se quiser vai com papel bonito e fita
pra quem quiser pegar

eu, aprendo, cresço, fico esperta
dou dez, dou vinte e trinta
coloco um ou cinco em seu lugar

O silêncio

Silêncio e frustração.
Justo pra mim.
Que amo tanto música.

Eu devo sim e devo mesmo, não ser digna de nenhum esforço mínimo.
Ou
Estar pedindo demais, exigindo demais dos pobres dos mortais.

Eu não mereço nada mesmo não
Nada mesmo
Nada
o mesmo
ou não.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

plenitude

para William

Há quem pense que plenitude deve ser uma coisa grande
Ela no entanto cabe
debaixo de um guarda-chuva pequeno no ponto de ônibus
enquanto o céu desaba
o ônibus atrasa e eu dou risada

Uma ou outra característica não cabe escrever e um conceito exato no escrever não cabe
Contudo, ela deve ser um negócio com muita chuva e muito molhado
Ou com muito sol e muito suado
E com muita música e deleite pros olhos

Ela é interrompida, às vezes,
pelo entregador de pizza
pelo cheiro de comida pronta
pelo trabalho
por uma ou outra burrice
por duas ou dez erupções absurdas
- e surdas -
de ciúme

De resto ela está sempre aí
E ela é tão simples, certa e dada
Que as pessoas não vêem

Mas, eu, ha!
Eu achei.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

outra descoberta

os homens não gostam das mulheres sãs,
das magras, sadias, das legais
eles gostam das loucas, das gordas, das doentes, das passionais

Sobre Manoel

Queridos,

http://cegafe.blogspot.com/2008/07/manoel-de-barros-begins.html

Pra quem quer saber do Manoel de Barros.

NÃO, OBRIGADA

eu não quero não, obrigada.
eu agradeço mesmo.
mas de loucura e inconsistência
já me bastam as minhas

de qualquer forma obrigada por ter passado por aqui.

um conto de fadas

Sabe o que aconteceu com aquela mocinha boazinha
Aquela princesa de vestido, na torre do castelo, esperando?
Cansou.
Desceu.
Bebeu.
Deu pra um time de futebol americano e entrou pra um banda de rock.

alimentação

alimentar mágoa e raiva é uma arte
talvez um vício
eu fui feliz por alguns momentos
mas esses dias têm sido
alimento puro para mágoa e raiva

obviamente que não se alimenta
mágoa e raiva sem ajuda
mas, Deus meu! - como sempre tem um filho da puta para te ajudar

Compensa velho? Compensa não, compensa nada
Se eu não me vingar, se eu não vomitar
As bichas vão crescer tanto, tanto
E vão comer a mãe

sábado, 31 de janeiro de 2009

chutando um cachorro morto ou doente terminal ou ciúme III

Quando um bichinho nosso adoece muito, geralmente, os veterinários mandam sacrificar.
É uma tremenda sinuca de bico, de perder e perder.
Você não quer sofrer, nem ver sofrendo, ao mesmo tempo certeza sobre as coisas não existe.
Fica-se entre uma doença que vai acabar te matando e uma injeção de veneno sem dor física (física, que fique claro).
A separação é inevitável.
O bom, mesmo, era não ter ficado doente.
Opção, que aparentemente, não existe.
Gente feito eu, normalmente, não opta pela injeção, porque somos besta/espírita, e ficamos pensando/torcendo por uma solução mágica, ou porque somos egoísta/covarde demais para aceitar o fim.