segunda-feira, 28 de setembro de 2009

tão intrometida,

Tinha um negócio escuro e viscoso saindo da orelha dele. Primeiro escorria e depois jorrava, pensei comigo em sair, porque depois do jorro vem o esguicho.
Achei que seria delicado da minha parte avisar antes porque ele, aparentemente, não dava conta:
Viu?
Levantou as sobrancelhas como que dizendo "vi".
Ta escorrendo um...uma coisa da sua orelha.
Apontou para a orelha e acenou curtinho várias vezes com a cabeça como quem diz "é".
Você deve ter se machucado.
Inclinou lateralmente a cabeça e ergueu as mãos como quem diz "óbvio".
Como será que está me escutando, pensei.
Fez que não com a cabeça. E, finalmente, falou: sou surdo.
E escuta pensamentos, pensei antes de mim.
E ele riu.
Fugi de um pensamento que já tinha sido qdo eu pensei em correr. Corri, corri e corri e desviei. Me pegou. "Você vai morrer".
E de novo falou, estou tentando. Mas é difícil.
Então, tirou a arma do casaco e atirou na própria cabeça mais uma vez.
Resolvi deixá-lo só.
Sou cheia de empatar a foda e o suicídio dos outros.

2 comentários:

Samuel disse...

Um beijo Maíra. Adorei esse texto. Até mais.

Samuel disse...

Você deve ser boa para escrever crônicas, Maíra.

Beijos!!