domingo, 2 de novembro de 2008

Uma descoberta tardia sobre esforço, preguiça e conforto

Nós, provavelmente por influência da cultura católica/cristão com raízes mais profundas do que se imagina, temos a impressão de que seremos reconhecidos ou recompensados ou, ainda, amados devido ao esforço que empregamos nas coisas.
É uma tremenda bobagem e tem me feito sofrer muito, toda a vida.
Toda a vez, em qualquer relação, que a gente se esforça demais, a outra parte se vê em uma posição extremamente confortável e, consequentemente, deixa de se esforçar.
Na verdade esforço demais atrai preguiça e desvalorização. Se se está em uma posição confortável, para que caralho se incomodar?
Isso serve pra tudo.
Não espere ao fazer o seu trabalho bem feito, assumir mais funções e ser super produtivo e competente, que se chefe aumente o seu salário ou lhe dê os parabéns. Ele vai lhe atribuir mais funções e exigir mais de você.
Eu sempre fui muito esforçada, pode ser porque eu nunca fui muito esperta, pode ser porque eu fui criada cristã. Eu não sei ao certo.
Sempre estudando muito e trabalhando desde cedo e me virando sozinha. A minha família tem um puta orgulho e uma despreocupação tremenda. Beira o relaxo.
Eu lembro que quando eu cheguei de uma viagem longa, operada da apendicite (foi um urgência, eu estava na puta que o pariu) ninguém apareceu para me buscar no aeroporto. Afinal, pra que se preocupar, eu me viro. Lembro de chegar no meu quarto, imundo, e ter de dar uma limpada nele com os pontos na barriga, porque ficar espirrando doía muito mais. Meu companheiro daquela época foi viajar para visitar a família e não estava minimamente preocupado, afinal eu me viro.
Meu pai, que é minha maior paixão, é o cara que eu sempre quis mais impressionar. E provavelmente o mais, o mais, confortavelmente, relaxado.
A última dele, me fez chorar como criança e tentar cumprir prazos absurdos impostos pelo meu antigo chefe com uma puta decepção enchendo meu coração de porrada.
Eu cumpri meus prazos, porque eu me viro.
Hoje, fazendo um processo de seleção super foda, que eu preciso. Eu tentei me concentrar na prova, com força. E entre uma linha e outra, me vinha na cabeça a imagem do cara que eu mais gostei até hoje se deixando beijar por outra mulher. Eu deixei ele bem confortável, aparentemente, a tal mulher também. Bobas que somos.
Eu li por volta de 70 páginas respondendo a 40 fichas, com o ciúme mordendo, destroçando meu coração. Talvez, eu até seja selecionada. Mas, hoje, eu me dei o direito de falhar.
E estou pensando em desistir da característica que minha família e companheiros de trabalho sempre elogiaram mais, meu esforço. Ou dirigi-lo a outras coisas que façam a mim e alguém feliz, pelo menos.
Porque, aparentemente, até agora só Deus para reconhecer e eu até considerei ir ter com ele logo, mas eu tenho alguns compromissos e prazos para cumprir. (E um bebêzinho lindo que vai nascer pra conhecer, né Dan? :).
E até aqui, sem pular de edíficio nenhum, sem desistir de existir (porque eu sou sensível feito bolha de sabão, sem casca ou proteção nenhuma mesmo e existir me faz sofre muito). Eu acho que deve ter sido o suficiente para Deus me dar pelo menos um alívio.
Eu estou cansada, fisicamente, mentalmente e emocionalmente.
O sentimento das pessoas é muito leve e eu sou muito pesada. Eu fico me esforçando para ter validação, importância e qualquer retorninho que for. Mas, aparentemente, a trajetória de pessoas esforçadas e competentes (para puta que pariu com a modéstia) é bem solitária mesmo.
Quando eu parar de prover o conforto a todos que me deixam tão desconfortável nessa minha pele e existência, eles, simplesmente, vão transferir seus sentimentos leves e relapsos a outro bobo esforçado.

3 comentários:

-Rol disse...

Ao menos, mas não menos importante, voce sabe que fez o seu melhor em tudo o que fez. E que tem a sua cabeça limpa. Isso, minha querida, é o que vai valer mais no final.

Unknown disse...

Minha preciosidade, que bom só ver meu nome nesse texto num momento bem positivo =D Deus me livre te chatear assim de novo (sei que já o fiz)! Eu não apenas reconheço seu esforço em tudo o que faz (incluindo a nossa relação ao longo de todos esses anos), mas juro que faço o possível pra fazer a minha parte (depois de ter apanhado um pouquinho, é fato...).
Amo você muito grande, com todo o meu coração e o resto de mim. Isso quer dizer que tudo isso está a seu dispor, se precisar de ouvidos, de colo ou até de uma carona ;)

Natalie disse...

Que texto!
Eu não quero mais me esforçar.
Me reconheci em cada linha do que escrevera.