segunda-feira, 28 de setembro de 2009

tão intrometida,

Tinha um negócio escuro e viscoso saindo da orelha dele. Primeiro escorria e depois jorrava, pensei comigo em sair, porque depois do jorro vem o esguicho.
Achei que seria delicado da minha parte avisar antes porque ele, aparentemente, não dava conta:
Viu?
Levantou as sobrancelhas como que dizendo "vi".
Ta escorrendo um...uma coisa da sua orelha.
Apontou para a orelha e acenou curtinho várias vezes com a cabeça como quem diz "é".
Você deve ter se machucado.
Inclinou lateralmente a cabeça e ergueu as mãos como quem diz "óbvio".
Como será que está me escutando, pensei.
Fez que não com a cabeça. E, finalmente, falou: sou surdo.
E escuta pensamentos, pensei antes de mim.
E ele riu.
Fugi de um pensamento que já tinha sido qdo eu pensei em correr. Corri, corri e corri e desviei. Me pegou. "Você vai morrer".
E de novo falou, estou tentando. Mas é difícil.
Então, tirou a arma do casaco e atirou na própria cabeça mais uma vez.
Resolvi deixá-lo só.
Sou cheia de empatar a foda e o suicídio dos outros.

Minha filha

Ontem a Larissa esteve em casa, e falamos de muitas coisas da vida e meios que nos planejamos para ter nossos filhos ao mesmo tempo, tipo em 2011.
Não sei se por essa conversa toda ou se pelo todo de estimulante que tomei pra trabalhar (e que não segurou meu sono) eu me encontrei com a minha não-nascida filha (que é provavelmente meu plano mais antigo e é, o que a Roberta diria, a busca instantânea por significado na vida).

Eu desse quarto fui parar num parque, com uma árvore e um banco embaixo dela. No banco uma criança pequena, uma menina, só. Eu meio que corro para alcançá-la. Eu sei quem ela é e procuro em mim alguma marca da chegada dela e não acho. E ela sabe quem eu sou, mas é quase indiferente. Alcanço. Pergunto:
Ei, gatinha. Vc não é muito pequenininha pra estar sozinha aqui?
Responde: Não.
Eu: Não?
Ela: Não. Você é que é muito pequenininha para eu estar aqui.

--
A primeira vez que eu sonhei com a minha filha eu tinha uns dezessete anos, que é quando aparentemente minha vida começou a acontecer. Eu estava numa casa que eu morei com a minha família temporariamente em razão da reforma da nossa casa. Estava na cozinha, com um bebê muito pequeno que eu apresentava para minha mãe como minha filha Isabel.
E ela para mim teve esse nome por muito tempo. Agora, como os planos não são mais apenas meus o nome está meio que em suspenso.
E talvez o plano também porque ela me disse de algum lugar em mim que eu ainda sou muito pequenininha.

...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

leminsky

e ainda com os pensamentos sobre os possíveis passeios da sua língua em mim

Hoje teve um sarau dos poetinhas.
E foi massa, de onde eu peguei pra diante.
Mas depois de um momento lá, eu achei q tava na hora de manifestar.
Não rolou pq na hora acabou, mas enfim essa sou eu.
O poema q eu ia recitar, é um poema do Leminsky.
O poema em questão, eu tava pensando nisso, entrou em mim qdo eu tinha dezessete anos.
E nunca mais saiu.
E isso faz onze anos.
Eu nunca fui tão fiel.
Eu tenho um problema com fidelidade, de verdade, pq eu nunca tinha visto até acontecer comigo, logo achei q não exisitia.
Isso me lembra por que eu sou fiel ao lemisnky assim
1 pq partilhamos a sensação de não existir e de suicídio sem morrer
2 pelo óbvio.

o tal do poema:
já me matei faz muito tempo
me matei qdo o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca
o mesmo
sempre
passo
morrer faz bem a vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma
morrer - de vez em quando-
é a única coisa que me acalma.


--------
"vc está tão longe
q eu sinto q nem existo"

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

28.

Eu to doída de estar completando 28, mesmo. Drama à parte. É um saco.
Estou mais pra dona q pra moça. E quase sem alcançar nada do planejado.
Tudo bem, pq eu nunca fui boa de planos.
Mas que bosta.
Lembro de uma das zilhões de brigas que eu tive com a Dani Seabra, aí ela disse (sei lá por quê) - o que eu tenho na vida? o rafa e uns poucos amigos. (ela não tinha o mais novo ainda).
Hoje quando deu meia noite, o Ruyzinho veio me abraçar. Foi massa. E no meio dessa minha rabugice pré-trinta e pré-qualificação, tenho que dar o braço a torcer pra Daniuska. O que a gente tem na vida mesmo são os amigos. Que bom que o Ruyzitos está por perto, e que saudade dos que estão longe.
Bobagem a gente ter crescido, casado, parido e mudado.
Eu devia ter sido mais menina quando dava, ter trabalhado menos e ter ficado menos mal-humorada enquanto as meninas estavam por perto.
Mas enfim, sei que minha fama de drama queen já atravessa as fronteiras nacionais, então, não vou nem me intimidar.
De verdade mesmo, hoje e agora que o Ruyzinho foi dormir, e a casa ta vazia, eu to me sentido mesmo, cansada e velha e sozinha.